terça-feira, 6 de agosto de 2019

Reverberar

Eu sinto no peito aquela vontade de fugir, de sair correndo, de esquecer onde moro e quem sou. Não sou mais a mesma de antes mas o que sou agora? Quem sou agora? Eu li tantas páginas e ouvi tantas vozes a me sacudir e reverberar no meu mais profundo ser: seja você! Mas eu volto a ser aquele ser entre as quatro paredes da caixa. Agora eu vejo através das paredes, vejo tudo. Vejo o que faz sentido e o que não faz, o que me faz sorrir e o que não faz. Eu tento me curar, me acolher, me abraçar mas o grito é o maior de todos que já ouvi. Ela grita alto pra me incomodar. Quando a gente não sabe por onde começar, o que a gente faz?

Há um buzinaço não sei pelo que no centro da cidade. Daqui já ouço distante. Mas parece estar cada vez mais perto. Seria um sinal? Justamente quando me reviro na própria tumba que me coloquei, as buzinas dos carros resolvem se fazer de catalisadoras como se fossem capazes de expurgar os males. Há pior mal que a mentira que contamos para nós mesmos todos os dias?

Não me sinto no direito de me rebelar. Mas é a minha vida, meu corpo, meu eu, minha alma. Não me sinto capaz de conseguir chutar essa caixa d'água imensa. Mas são os meus ex-sonhos, aqueles sonhados com outras pessoas. Não quero ser louca. Não quero que me vejam louca. Mas louca eu já sou.